“O principal desafio do artista independente é não deixar sua produção de lado e continuar amadurecendo/trabalhando, e, ao mesmo tempo, fazer parte da cena, do circuito social das artes. Você precisa estar nas duas áreas”. O salvadorenho Herbert De Paz mora no Rio de Janeiro desde 2013. A equipe do ¡Oye Carioca! entrevistou o artista visual em sua exposição individual, na Galeria Cássia Bomeny, espaço de arte em Ipanema.
“Os trabalhos aqui relacionam memórias pessoais de El Salvador com ancestralidade, imagens de arquivo e fotografias. Algumas dessas pinturas apresentam objetos milenares, tanto ameríndios quanto africanos, que são vendidos em leilões de arte no norte global. Trago a reflexão de como esses objetos estão ocupando espaços comerciais, sendo que são patrimônios culturais e materiais que foram retirados de seu território de origem. Outras pinturas são compostas pensando nesse território que é El Salvador, indígena e também afro-diaspórico, colonizado pelos espanhóis”, comenta Herbert sobre as obras apresentadas na exposição.
O artista chegou ao Rio de Janeiro por meio de um edital do governo brasileiro para cursar artes visuais. “ Eu consegui isso depois de decidir que não queria ficar mais lá. Em El Salvador, nós somos um povo de migrantes pelas questões políticas e sociais do país. Eu vim como estudante de intercâmbio [...]. Eu já estava com vontade de sair de lá e consegui essa oportunidade por meio deste programa de estudos. Tenho certeza que minha casa é aqui, quero continuar morando aqui”.
Herbert estudou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e no Parque Lage, onde teve relação com o repertório dos artistas brasileiros e da arte contemporânea nacional. Ele foi assistente da artista plástica carioca Adriana Varejão e também trabalhou com arte-educação em diversas instituições e organizações, como na Casa Museu Eva Klabin e no MAM Rio.
Ele comenta que estuda arte desde os seus 15 anos e que realizou um ensino técnico em arquitetura. A educação profissional em El Salvador é como se equivalesse ao 1º ano da faculdade devido a densidade do currículo. Teve acesso a técnicas de pintura, mas ainda não tinha certeza de que seria pintor. E hoje faz dessa técnica o destaque de sua produção.
Seu trabalho artístico parte pensando muito na memória, arqueologia, história e identidade. A partir disso, vai atrás de repertório imagético em acervos fotográficos, utilizando também referências de videogame, que cresceu jogando. “O meu trabalho é uma busca de respostas ao processo de colonização e suas consequências”. Em El Salvador, que é um território indígena, mas também espaço afrodescendente, o artista comenta que não entende o que o europeu deixou de legado.
Sobre ser um artista independente, ele diz que o principal desafio é você conseguir se manter. “Você precisa comer, se locomover e ter certa qualidade de vida. Porque você sendo um artista independente, precisa estar preparado o tempo todo para negociar. Você precisa ter um nicho de circulação, de relações. Você pode ser muito bom, mas também tem que ser visto, lembrado. Para ir para a frente, você tem que ir a eventos particulares e institucionais, e também estar junto com os artistas da sua geração.”