“É a partir de um desejo, de uma curiosidade, de um lado instintivo, que eu estabeleço uma relação com a arte e, a partir disso, convido as pessoas para um encontro com a música e com o teatro”. O peruano Edison Mego é ator formado de profissão e se define como percussionista de nascimento. Tem uma longa história com o Rio de Janeiro, pois já reside por aqui há 27 anos.
Ele chegou na cidade em 1996, por conta da graduação em Teatro na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, obtida por meio de um convênio entre Peru e Brasil que o beneficiou. Lembra que na época, no Peru, só tinha uma escola técnica de teatro.
Atualmente, Edison integra a companhia Tapetes Contadores, dedicada à contação de histórias. Comenta que o grupo se formou ainda na faculdade, uma história bonita de encontros, de desejos, e então já somam 25 anos. Lá ele é contador de histórias e ator, mas já teve que enveredar na produção dos trabalhos do coletivo, costurando tapetes e realizando projetos cenográficos. “A gente começou a fazer maquete, costuramos cenários, extrapolamos a dimensão de algumas coisas. Então, há esse lado do grupo, que incentiva em seus integrantes o processo de novos caminhos, mas atualmente estou como artista, unicamente contador”. O grupo já se apresentou em diversas cidades do Brasil, com turnês pelas regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, além de apresentações em outros países, como Peru, Bolívia, Espanha e Portugal.
Como musicista, Edison compõe o Negro Mendes, um grupo dedicado à música afro-peruana (em 2022, completaram 25 anos de existência!) e formado em sua maioria por imigrantes latino-americanos. “Eu acho que eu ainda mantenho um lado catalisador do grupo porque lembro que eu fui a ponte entre o José Maria, que é o outro percussionista, e o Ricardo Bartra, que é o violonista. De ‘vamos fazer, vamos botar’. Curiosamente, no Negro Mendes, eu assumo um lado mais organizacional. Logicamente, no momento de criação artística musical, da rádio, da percussão, estou presente, né? Mas nesse lado de produção e organização eu estou bastante à frente. E estando aqui, tive a felicidade de encontrar pessoas que compartilham gosto por esse estilo musical que tem no Peru, que é uma música do litoral, que é uma linha dela que é especificamente afro-peruana”.
Sobre os desafios de suas profissões, Edison comenta da posição do artista-produtor e deixa uma dica:
“O sonho de ser artista, viver da tua arte, implica também pensar, produzir, sentar, estruturar, fazer trabalho de mesa mesmo, escritório. Eu vejo, percebo, sei de coletivos ou casos individuais, que conseguiram sobreviver, conseguiram levar adiante quando misturaram esses caminhos, quando eles também entraram na produção, não tem jeito. Você tem que ser artista e, ao mesmo tempo, produtor do seu trabalho”.